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Na última segunda-feira (20), o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), José Montal, publicou um artigo no jornal Correio Braziliense sobre como os a os motociclistas e seus veículos necessitam de mais atenção por parte dos profissionais da saúde e, em especial, acerca da segurança no trânsito. No texto, o diretor fala sobre como a motocicleta se tornou importante veículo da mobilidade pessoal e assumiu relevância também como ferramenta de trabalho, visto que Motofrete e mototaxista são profissionais incorporados à nomenclatura trabalhista.
No entanto, o motociclista não tem o reconhecimento e respeito proporcionais à sua disponibilidade e ao risco a que estão submetidos. “A medicina tem se empenhado em estudar os acidentes de trânsito e hoje pode afirmar que, em verdade, eles nada têm de fortuitos ou acidentais”, enfatiza o texto.
CONFIRA ABAIXO O ARTIGO NA ÍNTEGRA:
Do cavalo mecânico ao unicórnio digital indomável
* Por José Heverardo Montal, diretor da Abramet; artigo publicado no jornal Correio Braziliense, em 20/07/2020.
Usuários mais vulneráveis da via, os que mais morrem e os que mais ficam incapacitados em decorrência de acidentes, os motociclistas e seus veículos têm merecido especial atenção dos estudiosos da saúde e segurança no trânsito.
Ágil e econômica, a motocicleta tornou-se um fenômeno de vendas e mais que duplicou sua frota em poucos anos. Principal meio de transporte na Ásia, veículo de lazer na Europa e Estados Unidos, passou a desempenhar importante papel como veículo da mobilidade pessoal e assumiu relevância também como ferramenta de trabalho. Motofrete e mototaxista são profissionais incorporados à nomenclatura trabalhista e se firmaram como instrumentos de preservação da mobilidade nas cidades, quão mais importantes quanto mais atravancadas pelos engarrafamentos. Em tempos de pandemia, a atividade que executam tornou-se mais que essencial, imprescindível.
Apesar de sua importância, o motociclista não tem merecido reconhecimento e respeito proporcionais à sua disponibilidade e ao risco a que estão submetidos. Uma visita às emergências dos hospitais choca pelo número de jovens vítimas de acidentes com motocicletas ocupando os dispendiosos leitos. São acidentes que demandam forte atenção médica multidisciplinar e prolongado tratamento, sendo a completa recuperação rara, quase sempre gerando sequelas incapacitantes definitivas. Não é incomum que percam a autonomia para os autocuidados, muitas vezes condenado a abdicar de vida social própria.
O exponencial aumento da frota de motocicletas e do número de condutores deste tipo de veículo, somado às características de sua engenharia desprovida de habitáculo protetor e com trajetória de geometria instável, torna o usuário desse modal de transporte suscetível aos riscos do trânsito e sujeito a impactos para os quais a engenharia darwiniana da evolução não dotou o ser humano de proteção, apesar dos equipamentos de proteção individual naturais, o escudo torácico e o capacete ósseo craniano.
A medicina tem se empenhado em estudar os acidentes de trânsito e hoje pode afirmar que, em verdade, eles nada têm de fortuitos ou acidentais. Conviver pacificamente no trânsito exige que tenhamos os demais usuários da via como parceiros de uma mesma jornada a esperança de que a COVID-19 nos leve a compartilhar dignamente os caminhos, portando os valores mais elevados, a ética e o respeito.
Manifestações de motociclistas profissionais estão se tornando frequentes e, basicamente, reivindicam a regularização da relação jurídica estabelecida entre eles e as chamadas plataformas digitais, inovação disruptiva que modificou substancialmente o mercado, a ponto de fazer com que a relação entre as partes pareça irreal.
Esta precariedade de vínculo tem demonstrado ser nociva para a saúde dos profissionais motociclistas, que, movidos pelo sistema que remunera melhor o que se sujeita à lógica da pressa, passam a assumir riscos que contribuem para a ocorrência de eventos indesejados de trânsito, com lesões e mortes como efeito colateral.