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Cerca de 283,5 mil acidentes de trânsito registrados em rodovias brasileiras, nos últimos anos, tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas, no momento da ocorrência. Esse volume de colisões, capotamentos e outros desastres deixou como saldo 247.475 feridos e 14.551 mortos. A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), que na Semana Nacional do Trânsito deste ano chama a atenção dos motoristas e autoridades para a importância da prevenção à saúde para a redução de acidentes nas vias e rodovias brasileiras.
Com base na catalogação de dados coletados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre janeiro de 2014 e julho de 2020, os médicos do tráfego reuniram os acidentes em categorias mais recorrentes, entre elas a falta de atenção à condução, ingestão de álcool, sonolência do condutor, mal súbito, restrição de visibilidade e ingestão de substâncias psicoativas.
“Essas situações denotam quadros direta ou indiretamente associados às condições de saúde dos condutores, como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio” pontua Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas destinadas a redução dos indicadores e reforça o estímulo à realização periódica do Exame de Aptidão Física e Mental pelo motorista, mecanismo considerado decisivo para a redução da mortalidade no trânsito. Além de campanhas permanentes de conscientização e fiscalização, Meira Júnior defende a prevenção adotada pelos médicos do tráfego.
“Através de orientações e aconselhamentos, podemos auxiliar na identificação de motoristas com risco de se envolverem em acidentes de trânsito e auxiliá-los a dirigir com segurança. É muito importante afastar da direção de um veículo condutores que possuem problemas de saúde que interfiram na direção veicular segura”, disse.
Em termos globais, as informações contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados, portanto, transtornos em colisões que aconteceram em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia Meira Júnior, “o quadro poderia ser até pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas”.
Situações clínicas – A falta de atenção ao volante, que, na avaliação da Abramet, pode ser consequência de situações clínicas importantes (fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio) responde por 215.401 dos acidentes catalogados, ou seja, 76% do total registrado no período e que podem estar relacionados à saúde do motorista. Apenas essa categoria responde por 182.288 (74%) feridos e 9.047 (62%) mortes.
Na sequência, vem a ingestão de bebida alcoólica. “Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, reduz a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, destaca o diretor científico da Abramet, Flavio Adura.
Segundo ele, o álcool afeta ainda a sobrevivência dos envolvidos em um acidente de trânsito. “Significa dizer que, quanto mais a pessoa tiver bebido, maior sua chance de morrer. Um mesmo impacto pode causar mais ferimentos numa pessoa que bebeu”, ressaltou.
Entre 2014 e julho de 2020, foram registrados pela PRF um total de 40.268 acidentes nas rodovias onde esse fator foi considerado uma das causas. Do volume de colisões, houve encaminhamento de 36.999 vítimas com ferimentos leves ou graves e o registro de 2.679 óbitos.
Sonolência – A terceira condição de saúde que mais aparece no levantamento é o sono. Quando insuficiente, é causa frequente e muito importante da sonolência diurna, sendo capaz de causar acidentes graves. Este fator motivou, segundo a PRF, 22.683 acidentes registrados nas rodovias, causando 2.092 mortes e deixando 22.645 feridos, entre 2014 e julho deste ano.
“Observar bons hábitos de sono, tratando possíveis doenças e obtendo sono suficiente antes de qualquer viagem, previne acidentes causados por sonolência”, lembra o diretor científico da Abramet. A sonolência excessiva, segundo ele, acarreta redução do tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo.
Completam o trabalho, o chamado mal súbito – perda de consciência devida mais frequentemente a doenças cardiológicas (infarto, arritmias) e neurológicas (AVC, convulsões) –, com um total de 2.702 acidentes; a visão reduzida, com 2.205 ocorrências; e o efeito de entorpecentes sobre o condutor, com 292 casos. Juntos, eles respondem por 773 mortes no trânsito e o encaminhamento de 5.543 vítimas de colisões para atendimento médico.